About the author
António Joaquim dos Santos, Toy Djack, nasceu na pacata aldeia de Ribeira Prata, ilha de São Nicolau (Cabo Verde) em 1932.
A sua infância foi dividida entre a casa da mãe e a do pai, na ilha que o viu nascer, e em São Vicente, em casa de um tio materno, que gentilmente o acolheu em 1940.
Em São Vicente, surgiu-lhe a oportunidade de frequentar a Oficina do Mestre Cunke (Pontinha) na área de serralharia, onde desenvolveu alguma habilidade para moldar, cortar e soldar.
Em 1950 regressou a São Nicolau; não incluiu muita coisa na bagagem, mas levou a vivência de "mucim d'Sãocent", o aprendizado dos anos da oficina, a determinação, muita vontade de crescer como HOMEM e vários sonhos, de entre eles o desejo de se tornar um BOM PAI de família, (os seus filhos havia de educar).
Engana-se quem pensa que voltava analfabeto, pois aprendeu a ler e, com uma caligrafia firme e delineada, as cartinhas de amor escrevia. Sim, fora autodidata, embora tivesse deixado para trás o sonho de ser médico-cirurgião.
Porque a sina do cabo-verdiano é a emigração, como bom crioulo, em 1954 aventurou-se a embarcar rumo a São Tomé; a situação da ilha de São Nicolau impelia as pessoas a procurarem uma vida melhor na terra longe. Foram dois contratos, seis duros e pesados anos nas roças.
Em 1962 escolheu um novo destino; - Europa. Holanda tinha aberto as portas à emigração, e, à semelhança de muitos compatriotas, foi procurar a sua sorte, tendo tido a oportunidade de embarcar e trabalhar durante 30 (trinta) anos em diferentes companhias, na sua maioria holandesas.
Em 1964 o destino o uniu à sua amada (Manduca), a esposa e companheira durante 38 anos, que na intermitência da emigração, lhe fez pai de sete filhos biológicos (quatro rapazes e três meninas) e o ajudou a criar mais dois.
Porque nem todos os sonhos se perderam pelo caminho, em 1983, alimentando o desejo de educar e formar os filhos, mudou-se com a família para São Vicente.
As longas, frias e solitárias noites de emigrante foram aquecidas pelo seu violão, que encostado ao peito, inspirado na saudade e embalado pelas turbulentas ondas brancas dos oceanos azuis "chorava" tímidas notas.
Foi assim que nasceram muitas das suas mornas e o sonho da sua compilação e divulgação. Durante décadas acalentou a vontade de gravar um disco, desejo que foi deixando na gaveta porque as prioridades familiares falavam mais alto. Este seria um projeto pós-reforma.
Em 1988, uma hérnia discal viria a interromper a vida de cozinheiro, mas nem isso o trouxe de volta para junto da família. Embora estivesse impossibilitado de exercer no mar, não foi considerado totalmente incapaz.
Atingida a idade de pré-reforma, em 1992, regressou definitivamente a Cabo Verde. Tinha chegado o momento de se unir à família, desfrutar do prazer da sua convivência, assistir ao crescimento do primeiro neto e ver nascer a primeira neta.
Contudo, um sofrimento raro fê-lo enterrar a esposa em 2002.
Em 2012, conseguiu concretizar mais um dos seus Grandes Sonhos, a gravação do CD "Paraíso Escondido". Foi um projeto desafiante, que só foi possível graças ao apoio que recebeu dos amigos, dos familiares, em especial dos seus próprios filhos, que se dedicaram de corpo, alma e coração ao projeto.
Porque a determinação foi sempre uma das suas principais virtudes, em 2018, e já com 87 anos, lançou o seu segundo CD "Tributo Universal". Sempre acompanhado das netas Hédine e Mara, e continuando a contar com o total apoio da família, Toy Djack abraçou mais este ambicioso projeto de fronte erguida. Tributo Universal é composto por doze faixas musicais, todas da sua autoria, à semelhança do que aconteceu com o primeiro trabalho.
A aventura ToyDjackiana, outrora cantada, é agora materializada e enriquecida em livro. Sim, este Rapazinho de S. Nicolau (também Mucim d'Soncente) teve o privilégio de, aos 90 Anos, lançar o seu primeiro livro a que deu o título de Toy Djack e o Paraíso Escondido – Memórias de um Cabo-Verdiano pelo Mundo Fora.