- Genre:art
- Sub-genre:General
- Language:Portuguese
- Series Title:YMAGO ensaios breves
- Series Number:2
- Pages:14
- eBook ISBN:9789899892422
Book details
Overview
Se a arte é uma resposta a um mundo fundamentalmente absurdo, a tecnologia fornece a pretensão de uma utopia que parece superar o homem. A figura mítica de Sísifo procura então restabelecer a disputa pelo direito ao espaço imaginário e simbólico do indivíduo contra o espaço mediático das ficções e dos seus fantasmas colectivos. Sísifo reitera, por isso, o sentido interrogativo e infindável da arte, porque só ele nos propõe a vontade da arte num mundo que se repete e que não consegue transformar. A arte opera assim, a permuta de imagens e uma compulsão à repetição por contraste com a história do progresso dos meios e a torrente das suas imagens. O ritual de Sísifo prossegue como sendo uma defesa contra a hipótese de alguma vez encontrarmos imagens definitivas ou verdades derradeiras nas imagens.
Read moreDescription
Se a arte é uma resposta a um mundo fundamentalmente absurdo, a tecnologia fornece a pretensão de uma utopia que parece superar o homem. A figura mítica de Sísifo, resgatada a Albert Camus, é aqui considerada para contrapor a condição humana e individual do artista à promessa conciliadora dos novos meios tecnológicos. Sísifo, ao invés de Prometeu, é um artista de outra espécie. Ele enuncia uma mudança, pois não é o promotor da tecnologia mas a figura que expressa a experiência de um mundo sem salvação ou saída. A luta de Sísifo trava-se assim na disputa pelo direito ao espaço imaginário e simbólico do indivíduo contra o espaço mediático das ficções e dos seus fantasmas colectivos.
A distinção entre arte e tecnologia presta-se portanto a atribuições de sentido; por um lado, existe a condição individual, e sem sucesso, do fazer do artista, por outro, o conformismo anónimo dos mass media. Por um lado, a resistência perante o fluxo de imagens, por outro, a decepção perante o fracasso de novas imagens. Sísifo reitera, por isso, um sentido interrogativo, e sem fim, da arte, porque só ele nos propõe a vontade da arte num mundo que se repete e que não se consegue transformar. A arte opera, assim, a permuta de imagens, entre artista e espectador, e uma compulsão à repetição em contraste com a história do progresso dos meios e a torrente das suas imagens.
O ritual de Sísifo prossegue como uma tentativa de defesa contra a hipótese de alguma vez encontrarmos «imagens definitivas ou verdades derradeiras nas imagens». Se existem imagens que continuam a interpretar as experiências inevitáveis da morte, do espaço e do tempo, no gesto de Sísifo trata-se tão-só de criar imagens no mundo existente e, precisamente, porque não é possível inventar novos mundos.
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