Redes, Trilhas e Estrelas

“Um homem se propõe a tarefa de esboçar o mundo. Ao longo dos anos povoa um espaço com imagens de províncias, de remos, de montanhas, de balas, de naves, de ilhas, de peixes, de habitações, de instrumentos, de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse paciente labirinto traça a imagem do seu rosto.” (Jorge Luis Borges) As palavras de Borges demonstram de maneira ímpar a construção de uma identidade. A minha vida foi povoada por minha família, por países, cidades, culturas diferentes, pessoas, ideias, escolas, aulas, alunos e muitos sonhos. A curiosidade, o anseio por algo não muito claro e a vontade de aprender têm entremeado esse caminho na construção do meu eu e do outro.

Ao passear pela vida vi estradas sinuosas cheias de mistérios e belezas. Ao vagar por caminhos labirínticos entre portas e janelas fechadas, deixei voejar pensamentos por entre arestas e ferrolhos que insistiam em ficar cerrados! A melodia da vida embalou meu andar enquanto sentimentos brincavam entre si e com meu coração e minha sanidade! Tantas vezes, na serra, no litoral, na cidade, deparei-me com dois caminhos - uma forquilha a me provocar! A alameda coberta de verde chamava-me pela beleza e aroma, enquanto eu virava as costas ao outro – um caminhado pisoteado por muitos! Cedo na vida cansei do comum, do igual, do ‘seguro’... Escolhi o diferente. Um sentimento de aventura, uma inquietação gostosa tomou conta de mim desde cedo. Ao permitir o bater de asas como as borboletas, lubrificaram-se trincos e gonzos e abriram-se frestas para adentrar sol, ar, chuva, perfume de flores, de grama, cheiro doce da terra, enfim, o olor de vida! Ao fazer escolhas na vida, tantas coisas influenciam os caminhos a serem tomados - tortuosos ou não; sonhos de infância, desejos de adolescência, expectativas de adultos, exemplos que intensamente habitam nossas vidas. O tempo passa em um vai e vem inconstante de anseios, nem sempre muito nítidos, nem objetivos, mas, todavia interesses múltiplos que povoavam meu dia-a-dia com uma insistência por vezes até irritante, um teimar persistente.

Sou uma mulher que tenho paixão pela leitura e pela poesia da vida. Sou professora e pesquisadora e sempre amei as (L)etras. Ao reinventar minha vida, olhei-me no espelho e comecei a enxergar um eu misturado com o outro, um alguém que eu não havia ainda descoberto.